Os venenos das cobras é produzido por glândulas que existem na boca de algumas espécies de cobras. Essas glândulas surgiram a partir de outras glândulas que produziam secreções para ajudar na lubrificação do alimento desses animais: as glândulas salivares.
As primeiras cobras existentes eram cobras não peçonhentas que se alimentavam de pequenas presas. Mas com o tempo, as cobras passaram a se alimentar de presas maiores. Presas maiores significava um ganho maior de energia, então era vantagem se alimentar delas. Mas, por outro lado, isso passou a ser um problema.
Presas muito grandes poderiam ser um risco para as cobras, pois podem ao tentar se defender, causar lesões às cobras. Uma das estratégias que algumas serpentes, evolutivamente, adquiriram e que solucionaram essa problema foi o desenvolvimento de uma dentição especializada e o aperfeiçoamento da glândula salivar em glândula de veneno, com as funções de imobilizar a presa e também digerir o alimento.
Então, a função inicial do veneno é digerir o alimento. Secundariamente, o veneno acabou sendo útil para defesa contra predadores.
O veneno das cobras é composto por água, açucares, lipídios, íons (cálcio, ferro, potássio, cobre) e uma enorme quantidade de proteínas. Essas proteínas tem a função de toxinas, ou seja, são substâncias que agem de forma nociva ao animal que ela está se alimentando.
Cada toxina age de forma diferente na presa. Venenos de jararacas possuem toxinas que criam lesão (necrose) na pele e nos músculos da presa. Outras toxinas (neurotoxinas) atuam no sistema nervoso central, como as encontradas nos venenos de cascavéis e corais verdadeiras. Outras toxinas alteram diversas reações químicas na vítima, podendo até impedir a coagulação do sangue.
Após usar o veneno para capturar sua presa, as glândulas de veneno levam cerca de 20 dias para produzir mais e preencher as glândulas. Mas nem toda injeção de veneno esgota a glândula de veneno e essa quantidade inoculada varia de caso a caso.
Além disso, a composição e as propriedades bioquímicas do veneno podem sofrer variações dentro da própria espécie. Fatores como idade, sexo, alimentação e habitat estão diretamente relacionados a essas alterações.
Isso leva a uma pergunta bem comum: É verdade que o veneno dos filhotes é mais potente que o dos adultos em uma mesma espécie? Isso tornaria um acidente com filhotes mais grave que um acidente com serpentes adultas?
Para saber mais sobre isso veja o vídeo abaixo:
Mas vamos prosseguir….
Você sabia que o veneno de cobra é utilizado para fins medicinais na medicina oriental? No entanto, o uso de veneno bruto de cobra para tratamento terapêutico não é ideal, pois contém toxinas que podem causar envenenamento e afetar todo o sistema fisiológico do indivíduo.
Avanços em compostos de veneno isolados e aplicações direcionadas mostram potencial para aumentar seu valor terapêutico no tratamento de várias doenças.
Uma das principais aplicações dos venenos de cobras se dá na produção do soro antiofídico, o único tratamento realmente eficiente para um acidente ofídico.
Os soros são feitos a partir do veneno das espécies de cobras de importância médica e distribuídos no Brasil pelo SUS.
Além do soro alguns medicamento já disponíveis no mercado foram descobertos e desenvolvidos graças ao conhecimento sobre o veneno das cobras.
O Captopril, medicamento mundialmente utilizado no tratamento da pressão alta (hipertensão arterial) foi isolado a partir de 2 peptídeos presentes no veneno de jararaca (Bothrops jararaca).
O Defibrase, medicamento anticoagulante utilizado no tratamento de problemas circulatórios, foi isolado no veneno da caiçaca (Bothrops moojeni).
Da caiçaca também obtivemos o Plateltex, medicamento que auxilia no processo de cicatrização.
Do veneno da cascavel, pesquisadores da UNESP (Universidade Estadual Paulista), em Botucatu (SP), desenvolveram uma cola biológica para uso cirúrgico.
Estudos acreditam que até no tratamento do câncer pode ser utilizado veneno de serpentes.
Se continuarmos pesquisando a composição química e os mecanismos biológicos dos componentes do veneno de cobra, podemos criar terapias médicas mais eficientes e seguras.
É emocionante pensar que o veneno de cobra pode levar à descoberta de novos compostos terapêuticos.
Também por isso, é necessário preservar as serpentes. Aprenda a reconhecer serpentes peçonhentas e saber o que fazer em caso de acidentes.
Preservar nossa biodiversidade pode ser a chave para futuras descobertas com resultados ainda mais benéficos para nós.