Antivenenos tradicionais, compostos por imunoglobulinas derivadas de cavalos, têm sido o principal tratamento para envenenamento por picada de cobra por mais de um século. Esses medicamentos são produzidos com técnicas pouco alteradas posteriormente, além do refinamento dos métodos de inoculação e purificação. Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) forneça diretrizes para procedimentos operacionais padrão aprimorados para a fabricação de antivenenos, também é importante avaliar os níveis atuais de conscientização em grupos comunitários e profissionais de saúde sobre a melhor forma de prevenir e controlar picadas de cobra.
A sobrevivência após o envenenamento por picada de cobra é significativamente melhorada pela aplicação rápida de primeiros socorros, principalmente a administração de antivenenos específicos que neutralizam as toxinas do veneno. Essas ações para surtirem rápido efeito, requerem um conhecimento público sobre as espécies de cobras venenosas locais e as medidas apropriadas de primeiros socorros para picada de cobra, assim como a existência de pólos de atendimentos com equipes de saúde experientes, além de soros específicos em número suficiente e prontamente disponíveis.
Apesar da importância do conhecimento básico e conscientização sobre envenenamento por serpentes, vários estudos relatam que muitos profissionais de saúde, inclusive em regiões endêmicas, têm pouco conhecimento geral sobre a identificação do animal causador do acidente e da sintomatologia apresentada em cada caso, importantes para o reconhecimento do tipo de acidente.
Em muitos países foi verificado que a literatura básica sobre o tratamento dos acidentes estavam desatualizados e forneciam informações imprecisas.
Entre a população em geral, incluindo setores de maior risco da população, como os que trabalham ao ar livre, o conhecimento sobre acidentes ofídicos são bem limitados . O uso de métodos tradicionais, como fazer cortes no local da picada, sugar o veneno e o uso de torniquetes e a aplicação de produtos feito com ervas e raízes, como o Específico Pessoa, infelizmente continuam a ser os primeiros socorros mais comumente usados entre a população em geral, especialmente nas comunidades rurais dos países em desenvolvimento.
Por outro lado, o conhecimento correto sobre as serpentes e os primeiros socorros adequados poderiam reduzir a probabilidade e as consequências graves de picadas de cobra nas pessoas.
Fatores socioeconômicos e culturais influenciam no comportamento das pessoas na busca por atendimento e podem levar indivíduos acidentados a optarem por práticas tradicionais em detrimento do atendimento hospitalar.
A falta de recursos ou transporte, ou mesmo a desconfiança da “medicina ocidental”, podem influenciar a decisão de ir ao hospital.
Para agravar essa falta de confiança, os profissionais de muitos centros de saúde não são suficientemente treinados para tratar picadas de cobra e, mesmo que o medicamento esteja disponível, na maioria dos países, pode ser muito caro para muitas vítimas .
Além disso, muitos antivenenos precisam ser mantidos refrigerados para permanecerem estáveis e eficazes. Em ambientes de poucos recursos com cortes de energia frequentes, mesmo nas cidades, manter uma rede de frio de qualidade pode ser quase impossível.
Em muitos países há a cultura de muitas famílias procurarem a ajuda de um curandeiro tradicional, que pode aplicar folhas ou cinzas de ossos de animais queimados, ou amarrar um torniquete ao redor do membro mordido, o que pode restringir perigosamente o fluxo sanguíneo. Alguns tratamentos com plantas até aliviam a dor e reduzem o inchaço, mas não podem salvar a vida da vítima. A entrada em alguns países de produtos antiofídicos inadequados, não testados ou mesmo falsificados diminuiu ainda mais a confiança na terapia antiofídica em geral.
Acredita-se que a grande morbidade e mortalidade por acidentes ofídicos poderiam ser reduzida por uma combinação de uso apropriado de antivenenos, treinamento adequado dos profissionais de saúde e maior conscientização sobre o comportamento adequado de busca de atendimento entre a população em risco.
Portanto, é crucial obter uma compreensão do nível de conhecimento da população em geral e dos profissionais de saúde no atendimento de um paciente. Há uma escassez de dados sobre o conhecimento sobre as serpentes e conscientização sobre o ofidismo entre a população e seus profissionais de saúde.